Páginas

4 de jun. de 2012

Entrevista: Hamilton de Assis, pré-candidato do PSOL à Prefeitura de Salvador - Jornal A Tarde

"O povo quer transparência", diz candidato do PSOL

Biaggio Talento

Depois de ouvir os pré-candidatos ACM Neto (DEM), Nélson Pelegrino (PT) e Alice Portugal, A TARDE entrevista, o professor Hamilton Assis, candidato do PSOL à Prefeitura de Salvador, que propõe uma gestão mais transparente e coerente para a capital baiana.


A TARDE - Haverá união dos partidos de esquerda (PSOL, PCB, PSTU e PCO) em torno de sua candidatura?

Hamilton Assis - Acho ser possível essa unidade. Estamos com conversa muito boa com o PCB. O companheiro Sandro Santa Bárbara, que foi candidato a governador pelo PCB em 2010, se colocou à disposição dessa conversa. Os companheiros do PSTU também. Mantivemos uma conversa com eles, que ficaram de ter uma reunião interna para definir tática eleitoral e os rumos que tomarão nas eleições. O PSTU é um partido que marcha junto com a gente nos movimentos sociais, que está construindo várias possibilidades de luta para a classe trabalhadora para tentarmos mostrar essas contradições do governo Lula e fazer a classe trabalhadora realizar uma nova marcha.

AT - Se a eleição fosse hoje, o senhor teria uma vantagem devido à greve dos professores que está desgastando o governo do Estado. Acha possível manter essa “pressão” até a eleição, já que o eleitor não costuma ter boa memória?

HA - A gente não utiliza a greve politicamente. É uma necessidade da luta dos trabalhadores. Me parece estar comprovado que governantes e patrões não são tão generosos. Então os trabalhadores necessitam dessas mobilizações para assegurar as condições mínimas como salário digno, condições de trabalho decentes. Isso é fundamental. Não fomos nós que criamos esse cenário. Ele está sendo criado pelas contradições geradas pela crise internacional, pela forma como governo e patrões estão se preparando para enfrentar essa crise e que usam a fórmula tradicional de transferir o ônus dela para o trabalhador, que não é bobo. Ele percebe quando está perdendo e precisa fazer esse enfrentamento e reaver seus direitos.

AT - Nas suas andanças, o senhor vê solidariedade das pessoas em relação aos professores em greve?

HA - Há um sentimento generalizado na nossa sociedade em relação a uma série de contradições que estamos vivendo nos governos do PT e de (prefeito) João Henrique. Nossa população fez uma aposta muito grande nos governos Lula, Dilma, Wagner e João Henrique. Então, há uma insatisfação muito grande em vários setores que não se viram contemplados ou tiveram as reivindicações atendidas nesse processo que ajudou a construir. Evidentemente que o eleitor busca alternativa. Nós ainda não temos a visibilidade devida nesses segmentos. E isso até nos ajuda. Se comparado à eleição de 2008, quando “Hilton 50” foi candidato a prefeito, as condições colocadas ali eram extremamente mais difíceis para a gente. Hoje, percebemos que há um cenário de animação da luta dos trabalhadores. Esses governos não melhoraram a situação das pessoas.

AT - Há um desencanto...

HA - Isso. E esse desencanto leva a que se precipite um conjunto de movimentos reivindicatórios na cidade, no conjunto da classe trabalhadora e é claro que essa animação da luta, melhora a consciência dos trabalhadores e desperta o seu interesse pela política. Nossa preocupação é que esse despertar não vá para o ceticismo – abandone a luta política – ou acabe promovendo o retrocesso, trazendo de volta o carlismo.

AT - O desafio do senhor está justamente aí?

HA - Exatamente. Nosso desafio é nos colocar dentro desse cenário como uma alternativa da canalização desse sentimento, de aprofundar as transformações que o nosso povo não viu acontecer no governo do PT e de João Henrique.

AT - E como conciliar a política partidária, com todos os seus males, com essa ação que o senhor propõe, transmitindo confiança às pessoas?

HA - Nosso povo é muito simples. Ele quer transparência, quer coerência. Se a gente jogar limpo, mostrar para ele a nossa coerência e as contradições dos atuais governos, apontando soluções com propostas razoavelmente exequíveis, capazes de serem entendidas, certamente essa confiança do povo, em relação a nós, aumentará. Por outro lado, com essa marca de que todos os políticos são iguais, se cria um cenário difícil para a gente. Entendemos que o PT e o prefeito João Henrique promoveram um retrocesso da consciência política. Esse desastre do governo e o caos da cidade causaram isso.

AT - Como ser transparente?

HA - Dizendo quanto a prefeitura arrecada, quanto ela gasta, como ela gasta, onde ela vai gastar, para que as pessoas possam acompanhar isso. Acho que esse é o erro principal do governador Jaques Wagner. Quando ele diz que não tem dinheiro (para dar o aumento aos professores) não tem coragem de abrir as contas. A gente sabe que tem recursos do Fundeb que podem resolver esse problema. Nós vamos apostar juntos. Se errarmos, vamos errar juntos.

AT - Os pequenos partidos têm o problema crônico da dificuldade financeira. Como será a campanha do senhor, vai usar redes sociais, televisão, comícios?

HA - Nossa campanha será estruturada financeiramente através da contribuição dos trabalhadores. Estive na manifestação dos professores e senti a vontade de vários em contribuir na nossa campanha, militantemente. Pessoas que não me conheciam e passaram a conhecer com as entrevistas que começamos a dar. Acho que essas pessoas que acreditam na nossa coerência vão contribuir das diversas formas para fazer com que nossa campanha obtenha recursos mínimos para garantir algum nível de projeção, de publicizar nossas ideias.

AT - Os grandes partidos terão, então grande vantagem, em relação à sua candidatura, em função dos aportes financeiros que recebem.

HA - O grande problema das candidaturas que custam caro é isso. Eles precisam pagar muito, comprar muita gente. Uma grande parte desse custo é feito na boca de urna. O candidato guarda uma soma significativa desse dinheiro, que ele não declara, pois o caixa-dois funciona através dessa lógica. Pretendemos fazer um debate sobre o financiamento público de campanha. Escândalos, como o mensalão, o de Cachoeira e outros, mostram que há um esquema perverso e criminoso de financiamento dessas campanhas que acaba comprometendo os projetos desses governos. Se você quer ver para onde o governo vai, geralmente você tem que olhar quem foi que financiou ele. Depois é só olhar quem são os principais beneficiários desse governo.

AT - Isso ocorreu na prefeitura, em sua opinião?

HA - João Henrique fez uma mudança radical na sua proposta de governo inicial – era um governo de participação popular – para uma outra linha que excluiu a participação popular, dissolvendo, por exemplo, o Conselho da Cidade, que discutia o PDDU.

AT - O senhor aceitaria contribuição financeira de um empreiteiro em sua campanha?

HA - Não. O PSOL não admite contribuição de pessoa jurídica. Só pessoa física. Mesmo assim, um certo empresariado que depois não teria como negar amizade, para a gente, não interessa. Então, o cara que aceita o dinheiro de Carlinhos Cachoeira e depois diz que não o conhece é uma desfaçatez muito grande, é achar que o povo brasileiro é estúpido. Nós temos um problema muito grande aqui, que é o da especulação imobiliária. Vamos fazer um debate sobre o escândalo das transcons, a máfia do lixo, a questão do Fundestran, que precisamos ver e discutir. Outro problema sério que precisamos esclarecer é o da saúde. Há indícios de que ocorreu uma articulação muito poderosa na morte do servidor Neylton da Silveira.

AT - O senhor vai mexer no caso Neylton?

HA - É um caso de polícia, mas ali carece uma auditoria. Precisamos tornar transparentes aquelas contas, porque o setor privado conveniado diz que a prefeitura deve não sei quantos milhões. Ou seja, você paga e nunca termina de pagar, mas, por outro lado, o serviço não melhora. É preciso entender o que acontece. Temos certeza de que, se fizermos uma revisão nesses contratos, poderemos modificar a situação.

AT - Qual sua visão em relação ao metrô?

HA - A sociedade precisa saber o que aconteceu e o que acontece com as obras do metrô e por que ele não funciona. Precisamos prestar uma satisfação do que foi feito com o dinheiro.

AT - Mas o senhor aprova o funcionamento imediato do metrô?

HA - Acho que se tem uma coisa em condições de funcionar, tem que operar, mesmo com subsídio. Vai ficar esperando para funcionar em 2014 (com o trecho da Paralela)? É uma estupidez. No nosso entendimento, está havendo um jogo político entre o governo João Henrique e o governo Wagner, que tentam ficar com o mérito de inaugurar o metrô calça-curta. Lembro que quando Nelson Pelegrino apoiou João Henrique no segundo turno da eleição passada, disse: “Agora o metrô sai, porque o PT está colaborando com esse governo”.

AT - O senhor é o único candidato cujo partido não participou da gestão de João Henrique. Como vê as declarações dos outros candidatos tentando se desvincular dessas duas gestões?

HA - É um jogo de palavras. Se a gente observar nos detalhes, o governo não foi bom. João Henrique se “desresponsabilizou” da gestão da cidade e criou um condomínio em torno de vários interesses. É justamente esse condomínio que administra Salvador, para uns poucos, que deixou ele agora nessa saia justa da prestação de contas. E agora ele tenta convencer as pessoas de que a responsabilidade é do gestor da secretaria em que apareceu o problema, quando na verdade ele ou o partido aliado são os maiores fiadores. Todos que colaboraram com isso e não fizeram autocrítica têm responsabilidade.
Fonte: Jornal A Tarde

Veja também:
Vídeo da entrevista do pré-candidato do PSOL à Prefeitura de Salvador, Hamilton Assis ao programa Balanço Geral - http://pagina50.blogspot.com.br/2012/05/video-da-entrevista-do-pre-candidato-do.html

Página 50 – Informativo 24 - http://pagina50.blogspot.com.br/2012/06/pagina-50-informativo-24.html
_________________
Pedimos divulgação por e-mails e nas redes sociais.

Faça parte do perfil: Facebook - Página 50

Nenhum comentário:

Postar um comentário